Brasil diz que pesquisas têm lacunas e que não mudará sua política
Os Estados Unidos aprovaram a primeira droga que mostrou capacidade de reduzir os riscos de infecção pelo HIV, um marco nos 30 anos de batalhas contra o vírus que causa a Aids. A Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) autorizou ontem o uso diário do remédio Truvada, da farmacêutica Gilead Sciences, como medida preventiva para pessoas com alto risco de contrair o HIV. A droga seria prescrita, junta a testes regulares de HIV e métodos para a prática de sexo seguro, a pessoas cujos parceiros são infectados pelo vírus.
O FDA informou, por e-mail, que está aprovando o novo uso do Truvada baseado em estudos com homens que fazem sexo com outros homens; com mulheres transexuais que fazem sexo com homens que estão em grande risco de serem infectados pelo HIV através do sexo; e com casais heterossexuais em que um parceiro tem HIV e o outro não.
A Gilead Sciences Inc. vem comercializando o Truvada desde 2004 para o tratamento de pessoas com HIV - no Brasil, há cinco anos. Mas estudos da farmacêutica, segundo a FDA, mostraram que a droga reduz entre 42% e 75% os risco de infecção.
"Nós já temos no arsenal brasileiro esses dois medicamentos (tenofovir e emtricitabine) que formam o Truvada", disse o coordenador da Área de Cuidado e Qualidade de Vida do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil, Ronaldo Hallal. Ele afirmou que a política brasileira de tratamento da Aids não será alterada.
Para o brasileiro, os estudos com o Truvada têm várias lacunas que necessitam ser respondidas. "O estudo feito entre mulheres foi interrompido na metade porque não houve proteção, portanto, esse registro não modifica a política brasileira", disse por telefone.
Hallal destacou a importância do investimento em pesquisas e do desenvolvimento de novas estratégias para a prevenção do HIV. "Mas somente o fato de esse medicamento ter sido registrado não modifica a estratégia". Segundo ele, a prática do sexo seguro com preservativo e a ampliação do acesso ao diagnóstico precoce têm reduzido em 96% o risco de transmissão.
"Além dessa estratégia, existe a profilaxia pós-exposição sexual, nos casos de acidente com ruptura do preservativo. Nesses casos, os serviços de atendimento HIV/Aids no Brasil podem avaliar e indicar o uso da profilaxia durante quatro semanas para prevenção", afirmou.
Hallal disse que o Brasil não trabalha com a noção de grupos de risco. "Apenas (trabalhamos com a noção de) que algumas populações são mais vulneráveis", explicou. (Com Andréa Juste e agências)
País oferece coquetel gratuitamente há 17 anos
O Brasil é um dos poucos países que, desde 1995, oferece gratuitamente medicamentos para pacientes infectados com o HIV.
A medida do Programa de Prevenção, Controle e Assistência aos Portadores de Doenças Sexualmente Transmissíveis e da Aids ajuda a aumentar a expectativa de vida dos portadores do vírus. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 90 mil são beneficiados.
Além disso, o governo incentiva a promoção de práticas seguras de prevenção e controle das DSTs, com treinamento e campanhas educativas pelo país. O programa nacional distribui mais de 200 milhões de preservativos gratuitamente para a prevenção de doenças.
Informações sobre diagnóstico, tratamento e outras questões sobre DSTs e Aids estão no site www.aids.gov.br.
Fonte: O Tempo