Tecnologia contra as bactérias

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Parceria entre pesquisadores brasileiros e cubanos na área de nanotecnologia contribui para o diagnóstico precoce de bactérias


Tudo ao nosso redor está infestado de micro-organismos. Inclusive nós mesmos. Um dos tipos mais comuns são as bactérias. Apesar de suas várias utilidades no ambiente, na produção de alimentos, de insulina, cosméticos etc., esses seres “invisíveis”, muitas vezes, podem nos causar males, contaminar o sangue, água e comida, e atrapalhar o bom funcionamento de diversos sistemas.

Para possibilitar a identificação precoce e eficiente da presença desses micro-organismos, pesquisadores da UFMG, vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiofarmacêutica (INCT Nanobiofar) em parceria com profissionais do Centro Nacional de Biopreparados (Biocen) de Cuba, estão desenvolvendo uma tecnologia superavançada para diagnóstico de bactérias. O produto final poderá prevenir grandes contaminações e epidemias e contribuir de forma relevante para a saúde e bem-estar das pessoas.


A coordenadora brasileira do trabalho, a professora da Faculdade de Odontologia da UFMG e integrante do INCT Nanobiofar, Maria Esperanza Cortés, explica que a ideia nasceu em Cuba, num dos maiores centros de pesquisa em biotecnologia do país, e chegou ao Brasil em busca de infraestrutura e tecnologias adequadas para seu desenvolvimento. “O objetivo é desenvolver um teste de bactérias que permita identificar a presença de determinados tipos do micro-organismo, como as do gênero E.coli, Enterococcus e Salmonella, de forma muito mais rápida que os diagnósticos convencionais.

O que antes era feito em dias, poderá ser obtido em poucas horas. Isso graças aos estudos microbiológicos e aos métodos que vêm sendo desenvolvidos no país parceiro associados ao desenvolvimento e aprimoramento de nanotecnologias na UFMG”, conta.


Matrizes

Maria Esperanza relata que o grupo mineiro contribui no projeto por meio da utilização de matrizes nanoparticuladas, que servem de suporte para o diagnóstico microbiológico. “Essas matrizes são estruturas e materiais específicos, espécies de modelos, que permitem observar se um alimento, uma superfície, a água, amostras de sangue ou de urina, por exemplo, estão contaminados por um tipo de bactéria. Para cada espécie de micro-organismo é desenvolvida uma matriz exclusiva, e o resultado obtido nos testes permite estabelecer o tratamento adequado em cada caso.”


O objetivo do grupo é disponibilizar um produto novo, mais eficiente e acessível, que incorpore bio e nanotecnologias, que possa contribuir para o diagnóstico e a prevenção de contaminações e infecções, mas que também seja útil para o tratamento. “Por meio desse sistema, quando uma bactéria resistente é identificada, podemos encontrar um jeito de eliminá-la”, explica a pesquisadora.


INCT

A ideia cubana ganhou força, num primeiro momento, junto a pesquisadores da Odontologia – uma vez que um elevado número de infecções atinge a boca – que viram no método de diagnóstico uma oportunidade importante para identificar contaminações em locais de difícil acesso ou nos quais não é possível saber se há contaminação de forma precoce, como um canal dentário.


Mas foi por meio da participação do INCT Nanobiofar que o projeto tornou-se viável. “O Instituto conta com várias tecnologias para criar superfícies nanoparticuladas e sua competência na caracterização e desenvolvimento das matrizes foi fundamental. Vários pesquisadores do INCT estão contribuindo com o conhecimento que já dominam, permitindo que a pesquisa esteja em pleno andamento e avance”, completa a coordenadora do trabalho.


O projeto começou este ano e, atualmente, encontra-se na fase de caracterização de materiais e realização de testes pilotos.


Socialização do conhecimento

Além dos benefícios em termos de saúde, o projeto traz contribuições significativas para o intercâmbio de saberes, competências e tecnologias. “É importante partilhar nossa ciência, incorporar aquelas que nos são apresentadas e construir, de forma conjunta, novos conhecimentos. Cuba, por exemplo, é um país de alto índice de desenvolvimento biotecnológico, mas que apresenta outras carências com as quais podemos contribuir”, reforça Maria Esperanza.


E a contribuição é recíproca por parte dos parceiros, que inclusive já estiveram na UFMG para realização de trabalhos conjuntos, participação em seminários e palestras. Outro importante resultado dessa interação é a formação de recursos humanos capacitados, com a realização de pesquisas de mestrado e doutorado tanto no Brasil quanto em Cuba.


Fonte: Fundep